Houve um
tempo em que me alegrava ao ver o quanto o brasileiro era solidário, uma
referência mundial quando se falava em um cidadão hospitaleiro e de bom coração,
sempre disposto a ajudar o próximo em todo tipo de campanha veiculada nas
igrejas, nos bairros, nas mídias ou, simplesmente, em sinais de trânsito, a
qualquer um que lhe batesse à porta pedindo auxílio, fosse alimento, dinheiro
ou até um emprego. Decerto que a violência não nos atemorizava como hoje,
acreditávamos nas pessoas.
Nada foi mais impactante e catastrófico
nessa falta de credibilidade, entre os brasileiros, do que as infindáveis e
sucessivas notícias de corrupção escancarada que assolam nosso país já há algum
tempo. Essa fatídica prática, que se espalha por todas as áreas possíveis e
inimagináveis, faz-nos atentos, em demasia, a qualquer tipo de ajuda ou
campanha solidária, tanto faz ser da magnitude de um “criança esperança” ou da
figura simplória e corriqueira da pedinte com um bebê nos braços, batendo no
vidro do carro no semáforo. Essa falta
de confiança mútua anda matando, aos poucos, o espírito fraternal que parecia
inerente ao brasileiro. Nem a “fezinha” acumulada do fim de semana ficou
imaculada, após escândalos enlameados e obscuros de alguns autodenominados “sortudos”,
que ganhavam repetidas vezes em jogos legalizados.
A corrupção mudou a vida de todos nós
para pior, nivelando por baixo todas as ideias e iniciativas em prol daqueles
que, realmente, poderiam se beneficiar com a ajuda de muitos, principalmente ajuda
financeira, e a desculpa não é o fato de uma crise, aumento na taxa de
desemprego, inflação ou desaceleração na economia do país, o grande problema é,
mesmo, a desconfiança que se instaurou na mente e no coração da maioria dos
brasileiros, na dúvida de que algum setor público ou filantrópico ainda não tenha
sido contaminado com esse mal. Não obstante a comprovação de práticas de
corrupção nos mais diversos setores, ações de investigação conjunta da polícia
federal e do judiciário tentam amenizar os prejuízos morais e pecuniários,
embora sejam, ainda, feitas de forma lenta, pouco transparentes e que, no final
das contas, não ressarce de modo satisfatório os cofres públicos. Será que o
montante total roubado da nação, denunciados em tantas CPIs e algumas
condenações, foi devolvido? É sabido que muitos juristas ficam engessados pela
própria Lei. Por exemplo: um crime de lavagem de dinheiro para um réu primário,
levaria à reclusão de 3 a 10 anos, passando pelos regimes fechado, semiaberto e
aberto, além de uma possível antecipação provisória da liberdade do condenado
pelo juiz da Vara de Execuções Criminais, de acordo com requisitos legais, ao
ter cumprido um terço da pena. Isso,
independente do montante desviado, sejam 100 mil ou 100 milhões de reais. Simplesmente, o criminoso pode pagar sua pena
e sair rico. Haja vista a utilização, por esses fraudadores, de “laranjas” e “paraísos
fiscais” a fim de não serem descobertos quanto ao seu ilícito patrimônio. Vale a
pena se arriscar?
Se a justiça necessita de reformas ou
apenas ser mais enérgica contra a prática de corrupção, cabe aos bons
profissionais juristas e legisladores refletirem para decidir o melhor e mais
rápido caminho nessa mudança, ou melhor dizendo, faxina. Indubitavelmente, o
reflexo que nos atinge, sou taxativo em dizer, é o da insegurança e
desconfiança que tira, cada vez mais, dos nossos semblantes, a alegria de poder
ajudar, sem titubear, o próximo, as instituições, as campanhas solidárias,
enfim, acreditar no ser humano e em sua essência. É um triste fato que está
transformando o brasileiro em europeu, não pelas virtudes, apenas na fama do
olhar frio e indiferente para com aquele que lhe estende a mão clamando ajuda,
mostrando o quão perigoso é a sensação da injustiça e impunidade na mudança de
comportamento de um povo.
Texto: André Neves
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